Mais do que uma prática de recursos humanos, a avaliação anual de desempenho é apontada por especialistas como uma ferramenta de diagnóstico, alinhamento e prevenção de problemas que, quando ignorados, costumam aparecer mais adiante na operação e no financeiro das empresas.
Para entender por que esse momento é importante para a evolução dos colaboradores, conversamos com o mestre em governança corporativa e especialista em recuperação judicial Marcello Marin e com Marcos Freitas, CEO da consultoria de evolução empresarial Seja AP.
1. Cria diagnóstico e evita decisões sem base clara
Segundo Marcello Marin, empresas raramente entram em crise por falta de esforço das equipes. O problema costuma ser a ausência de diagnóstico claro sobre pessoas, processos e entregas, o que leva a decisões mal informadas.
“A avaliação anual permite identificar gargalos de performance, falhas de execução e desalinhamentos antes que eles virem problemas financeiros. Sem esse olhar estruturado sobre pessoas e processos, a empresa segue operando no escuro e decisões sem diagnóstico costumam custar caro no médio prazo”, afirma.
2. Proporciona janela real para reflexão e mudança
Para Marcos Freitas, o encerramento do ano cria um momento único de consciência e abertura para mudança, quando as pessoas tendem a refletir sobre o que fizeram, o que evoluíram e o que travou ao longo do ciclo. “Fim de ano não é só festa ou recesso. É quando as pessoas realmente param para pensar no que fizeram, no que evoluíram e no que travou. Esse é o timing perfeito para avaliação, porque o colaborador está aberto, reflexivo e querendo entender se entregou, se cresceu e se valeu a pena”, diz.
3. Traz clareza de papéis, expectativas e direção
Um dos problemas mais comuns observados por Marin é a confusão entre função, autoridade e entrega dentro das empresas. Segundo ele, a avaliação anual ajuda a formalizar expectativas, responsabilidades e critérios de desempenho.
“A avaliação anual é uma ferramenta essencial de governança porque formaliza expectativas, responsabilidades e critérios de desempenho. Quando isso não existe, surgem conflitos internos, sobreposição de tarefas e decisões mal tomadas. Governança não é só conselho e estatuto. A governança começa no dia a dia, com gente sabendo exatamente o que precisa entregar”, afirma. Para ele, a avaliação não deve ser confundida com julgamento ou oportunidade de “dar bronca”. “Avaliação não é julgamento, é clareza de direção. Mostrar onde a pessoa está indo bem, onde está abaixo do esperado e o que precisa mudar para evoluir. Avaliar é alinhar. Não é punir”, diz.
Sem feedback estruturado, erros se repetem e se acumulam
A ausência de avaliação e de feedback estruturado faz com que comportamentos e decisões equivocadas se repitam ao longo do tempo. “Colaboradores que não entendem seu papel ou não recebem feedback estruturado acabam tomando decisões inconsistentes, retrabalhando ou simplesmente empurrando problemas para frente. Isso gera desperdício, ineficiência e aumento de custos ocultos”, afirma Marin.
Para Freitas, a prática interrompe o piloto automático. “A avaliação anual funciona como um freio inteligente que interrompe o piloto automático, corrige rota e evita que problemas pequenos virem crises grandes no ano seguinte”, diz.
4. Ajuda a sustentar o crescimento e preparar o próximo ciclo
Segundo Marin, quando empresas crescem sem avaliação periódica, erros acabam sendo ampliados junto com a operação. “Quando não existe avaliação periódica das pessoas, a empresa escala erros junto com o crescimento. Avaliar no fim do ano permite ajustar a estrutura antes que ela se torne pesada demais para ser sustentada financeiramente”, afirma.
Para Freitas, tratar desempenho de forma estruturada também cria relações mais maduras entre liderança e colaboradores. “A avaliação anual traz maturidade para a relação entre liderança e colaborador ao deixar claro que crescimento não é sorte, é construção. Você cresce porque entrega, porque melhora e porque assume responsabilidade”, diz.
5. Funciona como ferramenta de preparação, não de correção tardia
Na visão dos dois especialistas, a avaliação anual deve ser encarada como um mecanismo contínuo de preparação para o ciclo seguinte, conectando aprendizado, ajustes e decisões futuras. “A avaliação anual funciona como um mecanismo de prevenção. Corrige desvios, reforça bons comportamentos e orienta decisões para o próximo ciclo”, afirma Marin.